Um bom começo para uma deliciosa refeição é escolher o restaurante onde deseja-se comer.
Se você prefere uma boa comida italiana pode começar pelo restaurante de dois irmãos no filme A Grande Noite (Big Night, 1996, de Stanley Tucci e Campbell Scott), na Nova York dos anos 50.
A próxima parada é em outro restaurante italiano, o Arturo al Pórtico, visto no filme O Jantar (La Cena, 1998, de Ettore Scola), onde há uma série de personagens-clientes, que estão ali para comer, conversar, brigar, dançar, cantar e se confessar.
Para paladares mais sofisticados uma boa opção é o restaurante Lido, cuja chef, protagonista do filme Simplesmente Martha (Mostly Martha, 2001, de Sandra Nettelbeck), é uma mulher solteira e solitária que ama cozinhar.
Para quem prefere um restaurante francês então veja O Amor está na mesa (Cuisine Américaine, 1998, de Jean-Yves Pitoun), uma leve comédia romântica sobre um jovem cozinheiro que, após ser expulso da marinha, consegue uma vaga em um dos mais badalados restaurantes da França. O filme é bem fiel ao retratar o frenesi da cozinha de um grande restaurante.
Entrada
Tomates Verdes Fritos (Fried Gren Tomatoes, 1991, de Jon Avnett), uma dona de casa frustrada conhece em uma clínica uma solitária viúva que lhe conta a história da forte amizade entre duas mulheres, proprietárias do Café da Parada do Apito e responsáveis pelos deliciosos tomates do título.
Comer, Beber, Viver (to 1994, de Ang Lee) é a história de um chef em Taipei, que vive com suas três filhas, que, por sua vez, não mantêm uma boa relação com o pai.
Amor à flor da pele (In the mood of love, 2000) que, nas palavras de seu diretor Wong Kar-Wai “È uma história sobre comida... é sobre duas pessoas, vizinhos, que estão comprando noodles (um tipo de sopa) o tempo todo... Era para ser um lanche rápido e se tornou um grande banquete”. Traídos por seus respectivos cônjuges, que são amantes, passam longas noites em solidão e acabam descobrindo que possuem muitas coisas em comum.
Para o diretor vietnamita Tran Anh Hung o seu filme As luzes de um verão (À la verticale de l'été, 2000) “È um filme sobre amor e comida, dois elementos carnais. Compartilhar comida tem diferentes significados para povos diferentes, pois todo mundo tem algum tipo de relação com ela”. Hung já havia explorado esse assunto no anterior O Cheiro de papaia verde (L’Odeur de la papaye verte, 1993), onde o ato de cozinhar serve quase como uma metáfora da vida. Filmes líricos e delicados como só o cinema oriental consegue ser.
Prato Principal
Vatel (2000, de Roland Joffé) faz parte de uma “gastronômia política”, aquela em que os interesses de uma nação ou de um governante em particular são discutidos durante as refeições. Um filme “apetitoso”, que conta com grandes interpretações de Gerard Depardieu e Uma Thurman.
Sabor da paixão (Woman on Top, 2000, de Fina Torres) uma linda mulher (Penélope Cruz) possui o dom de cozinhar e transformar todos os ingredientes culinários em magia. Com música popular brasileira na trilha sonora e muita comida e paixão, o filme torna-se uma comédia picante que deve ser saboreada.
Como água para chocolate (1992, de Alfonso Arau) trata da relação entre comida e paixão é extremamente visceral. As alegrias, tristezas e frustrações amorosas são divididas entre Tita e suas receitas, onde cada prato tem, literalmente, os sentimentos mais íntimos da protagonista.
Em 1871, uma francesa chega a um vilarejo na Dinamarca. Seu nome é Babette e ela é protagonista do filme A Festa de Babette (Babette’s Feast, 1987, de Gabriel Axel). Emprega-se na casa de duas irmãs solteironas e, algum tempo depois, ganha na loteria e prepara um jantar em comemoração ao 100º aniversário do falecido pastor, pai das mulheres com as quais ela mora. A princípio desconfiados dos prazeres de suas iguarias, os moradores da aldeia acabam cedendo às delícias de tão requintado banquete, que lhes proporcionam algo que até então nunca tinham vivido ou experimentado.
Pratos Exóticos
Neste item do cardápio, os filmes são para paladares um pouco mais aprimorados e menos sensíveis, sendo que nem sempre é possível saboreá-los com facilidade. Claro que qualquer um pode degustá-los, apenas não me responsabilizo por alguma má digestão que isso possa causar.
O Ladrão, o Cozinheiro, sua Mulher e o Amante (The Cook, the thief, his wife e her love, 1989, de Peter Greenaway) um gangster e sua mulher vão todas as noites a um restaurante, onde ela é ajudada pelo cozinheiro em encontros secretos com o amante. Sexo, poder, arte, comida e humor negro misturados na mesma panela, rende um filme forte, estilizado e intelectualizado, que não agrada a todos os estômagos. Os mais sensíveis devem tomar cuidado com a seqüência final – um banquete extremamente escatológico.
A Comilança (La Grande Bouffe, 1973, de Marco Ferreri) onde quatro homens – Marcello Mastroianni, Michel Piccoli, Ugo Tognazzi e Philippe Noiret - isolam-se em uma casa para comer e transar até morrer. Ferreri não está preocupado em ser sutil ou agradar o espectador. Só para estômagos fortes, que não se importam em ver um filme provocativo e cruel.
Tampopo – os brutos também comem spaghetti (Tampopo, 1986, de Juzo Itami), conta com muito humor negro e irreverência, a história de uma viúva que se empenha em salvar uma casa de massas. Um divertido banquete que satiriza a cultura oriental, podendo tornar-se indigesto para paladares um pouco mais conservadores, principalmente nas cenas do casal que mistura sexo e comida.
Dusan Makavejev, diretor iugoslavo, apresenta um banquete antropofágico no final de Sweet Movies (Sweet Movies, 1974), filme que mistura sexo, comida, pedofilia, açúcar, necessidades fisiológicas, política, vômitos e excrementos em um emaranhado de situações que beira o grotesco. Deveria vir com algum manual de contra-indicações e só é recomendado para quem deseja uma experiência forte e visceral.
Diferente de todos os filmes anteriores em O Discreto Charme da Burguesia (Le charme discret de la bourgeoisie, 1972, DE Luis Buñuel) um grupo de amigos burgueses reúnem-se para jantar mas nunca conseguem comer devido a diversos acontecimentos, um mais estranho que o outro. Obra genial do diretor espanhol Luis Buñuel, que mistura sonho, realidade e personagens que fizeram do sexo, da comida e da corrupção o centro da vida.
Bebida
Não há nada melhor para beber do que um bom vinho. Principalmente se é feito de uma forma tão artesanal como mostra o filme Caminhando nas nuvens (A walk in the clouds, 1995, de Alfonso Arau), que narra a história de amor de dois desconhecidos em uma vinícola.
Caso você queira uma aula sobre degustação de vinhos e um tour pelas vinícolas de San Diego, Califórnia, pegue carona com os dois amigos de Sideways – entre umas e outras (Sideways, 2004, de Alexander Payne), road movie etílico-depressivo sobre amizades, escolhas e frustrações do homem moderno pós-30 anos.
Sobremesa
Terminando a refeição, nada melhor do que uma deliciosa sobremesa, e se for de chocolate ou com chocolate, tenho certeza que ninguém irá reclamar.
E por causa disso, é impossível resistir ao filme Chocolate (Chocolat, 2000, de Lasse Hallstrom) que, literalmente, é para se “comer com os olhos”. Mãe e filha chegam a uma tranqüila cidade e abrem uma loja de chocolates, causando um enorme impacto na conservadora e pacata comunidade. Um filme que é quase uma experiência sensorial.
Café
E para finalizar, nossa última parada é no Bagdá Café (Bagdá café, 1988, de Percy Adlon), onde uma turista alemã, em viagem aos EUA, abandona o marido e hospeda-se em um bar de estrada, o café do título. Sensível fantasia sobre marginalizados e excluídos em uma América árida e desolada.